A série “Paisagem Apagada” é estruturada a partir de observações da natureza no interior fluminense, região com um histórico de degradação do meio ambiente que hoje em dia sofre com queimadas, seca e processos de desertificação. Nesses trabalhos há uma relação com as imagens que os artistas viajantes fizeram no passado para documentar a exuberância das plantas e animais dessa região e um deslocamento temporal desse imaginário para os dias de hoje.
O termo imaginário pode soar estranho para uma produção de caráter documental, mas há um consenso de que os conteúdos presentes nessa imagética passam pelo filtro dos padrões culturais desses artistas e dos modelos formais vigentes em sua época. Utilizo em minha produção imagens da natureza que remetem a memórias desses lugares e construo uma narrativa afetiva sobre esses restos de paisagem natural que ainda sobrevivem. São desenhos em chapa de madeira onde utilizo uma variedade de meios, grafite, pirógrafo e marcador. Organizo os elementos a partir de memórias de paisagens e vivências com algum apelo emocional.
A madeira é um elemento fundamental no desenvolvimento da civilização, está presente no cotidiano humano desde a pré-história, é um material que é impregnado de memórias, presente no ateliê do artista desde sempre, nos suportes das telas, cabos de pincéis, mesas e cadeiras. Ligada à religiosidade e ao mundo natural é um material que traz uma carga atávica. Acho que tudo isso se reflete na organização das imagens, inconscientemente comecei a usar arranjos simétricos que evocam padrões da natureza ou padrões observados por mim e guardados na memória.
Técnica mista sobre madeira
80x60cm
2020